sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Abaixo, estou postando um dos meus contos, o último escrito ano passado sobre Fernando pessoa. O conto trata do aparecimento ficcionário de um de seus heterônimos. Alberto Caeiro . Tá aí, se alguem quiser ler ;D




A insana lucidez de um poeta fingidor.




Fernando. Só no seu gabinete em sua casa, atrás de si uma enorme biblioteca contendo seus autores preferidos. Uma folha de papel, pena e tinteiro a postos, Fernando Pessoa buscava inspiração, decidido de que hoje ele escreveria por si mesmo. Nada de invasões alheias. Andava pensativo, a fim de buscar entender como funciona a mente artística, e porque os autores têm a mente tão complexa.
Desejava escrever sobre a complexidade de si mesmo.
Rascunhava uma frase “O poeta é um fingidor”, mas sua imaginação não fingia, estacionava e Fernando Pessoa não estava muito “afim” de se expor.
Foi desanimando, o sono foi chegando, eis que de repente ele sentiu uma sombra à suas costas. Era um homem de aparência simples, com botinas sujas de barro e uma roupa típica de quem têm costumes de viver no campo.
Nunca havia visto aquele homem.
Fernando a primeiro momento assustou-se ao ver o homem olhando-o quase que com um olhar paternal e sorridente. Mas passado alguns longos minutos recompôs-se.
Então perguntou:
-Quem és o senhor? E o que fazes em minha casa?
O homem respondeu:
-Alberto Caeiro, a seu dispor.
Pessoa pareceu não entender mais ainda o que estava acontecendo, mas logo se deu conta e pensou: “Deve ser mais um”.
Então resolveu dar corda à imaginação e ver onde esse seu “possível” novo heterônimo poderia chegar.
-Vens de onde caro Caeiro? Perguntou Fernando Pessoa.
- Ah, venho de não muito longe, caro amigo. Cá mesmo de Lisboa.
-Entendo, mas pelo que vejo vives no campo?
-Sim, vivo no campo e me orgulho muito disso, não sou estudado não senhor, mas entendo muito mais a “minha” natureza pelo que vejo do que pelo que sinto.
- Então gostas de filosofar?
-Não. Não filosofo, acredito que os seres somente são e nada mais.
Assim, Fernando e Alberto se fitaram por um longo momento, e Fernando foi arquitetando dentro de sua mente todos os detalhes que lhe faltavam sobre ele e foi enredando assim, uma série de idéias emboladas entre si como lã.
Alberto Caiero então vai até o sofá e se senta. Nesse momento sua figura foi se tornando esfumaçada, perdendo a nitidez humana, como uma espécie de fantasma.
Fernando começou a escrever desesperadamente, sem simplesmente pensar, como se um terceiro ser estivesse jorrando informações sobre o tal homem em sua cabeça e sua mão vomitando palavras e mais palavras.
Em menos de meia hora, Fernando Pessoa havia construído seu novo heterônimo. Alberto Caeiro. Agora ele tinha nacionalidade, casa, família, muito mais que isso, ele tinha vida própria.
Caeiro então, sentado no sofá, já novamente nítido, se virou para Fernando e disse:
- Terminou meu caro?
Ainda confuso, ele respondeu:
- Creio que sim.
-Pois bem, agora posso me manifestar!
Naquele momento, Fernando Pessoa teve novamente um acesso, como se estivesse “insano”. Apanha a pena e começa, logo pelo título: “O guardador de rebanhos”.
“Eu nunca guardei rebanhos
Mas é como se os guardasse...”.
Explode a inspiração e vão saindo textos e mais textos, e Fernando simplesmente se esquece de ver se a figura do homem simples que se expressa por meio dele ainda está presente em sua sala. Não enxerga mais nada.
Alberto Caeiro agora vive em si, as duas figuras se fundem, ele é Alberto.
Assim, naquela noite de “insônia” Fernando Pessoa escreveu quarenta e nove textos, dele Caeiro.
Ao finalizar, Alberto Caeiro reaparece a sua vista e diz:
-Obrigado por unir sua noite de insônia com a minha. E lembre-se: “Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...”.
Assim, sua imagem se dissolveu no ar, e Fernando sentiu um misto de felicidade, satisfação e um pouco de desconforto, pois não entendia se sofria de uma vertigem em que vivem vários personagens dentro de si, ou se simplesmente possuía uma imaginação altamente fértil. Quem sabe a união dos dois?
Mas, apesar de sua confusão mental, decidiu que, uma figura tão especial, cativante e sobretudo sábia não podia ser reprimida dentro de si.
Fernando, então pensou: “Vamos dar asas ao meu novo amigo”.
Rascunhou mais umas palavras e deixou sobre a mesa, a primeira obra e uma pequena passagem que dizia assim:
"Uns agem sobre os homens como o fogo, que queima nele todo o acidental, e os deixa nus e reais, próprios e verídicos, e esses são os libertadores. Caeiro é dessa raça. Caeiro teve essa força."

Fernando Pessoa.

2010

Vamos ao primeiro post de 2010. Eu pra quem sonhou um dia viver no mundo das letras e do jornalismo, não ando cumprindo muito com o meu dever de futura 'alguma coisa' nas áreas mencionadas.
É que meu sonho por algum tempo se perdeu em alguns simples e inocentes sorrisos e palavras mal faladas e formuladas por seres com menos de 1m. É, crianças tem tal efeito sobre mim.
Por um momento desisti de cursar jornalismo, de morar nos EUA, de me mudar pra São Paulo e trabalhar em editoras. Por um momento almejei um sonho simples, pequeno, singelo, e por incrivel que pareça invejado por muitas pessoas. Sonhei com um ambiente pequeno de quatro paredes, enfeitado com muitos bichinhos e letras coloridas contendo diversos nomes como "Valentina", "Vitor Hugo", "João Vitor", "Júlia" e etc. Sonhei em ter na parede um mural, contendo fotos dos meus momentos mais felizes com esses personagens, em ter uma estante cheia de brinquedos, uma mesinha para atividades e claro nao poderia faltar, um tapete cheio de almofadas.
O meu sonho era simplesmente viver por eles, já que pensei que seria feliz assim. O que as crianças não sabem é que por causa delas, muitos adultos fazem coisas irreais e desumanas.
É clichê todo esse sentimento, mas a vida me ensinou em pouco tempo em que eu sobrevivo aqui, que o tempo que o meu sonho há muito tempo construído foi desmoronado em segundos, e ser professor não tem nada de encantador nem bonito, e sim, se torna a mais cruel das profissões.