Eu achei que tinha perdido esse blog... mais o reencontrei xD
Hoje eu pensei em postar aki o meu conto, afinal, pra que eu escrevi um conto? Pra guardar pra mim? Não. Pra tirar nota na faculdade? Também, mas nunca imaginei que ele ficaria legal, então, seria legal que outras pessoas pudessem aquilo que um dia eu escrevi... Que pudessem dividir comigo as minhas idéias e as minhas viagens...
entãooooo.. ai está...
OS DOIS JOSÉS
Mafalda sentia as dores do parto. Não eram dores fortes, sentia-se bem como na primeira gravidez.
O menino ia se chamar José, exatamente como o outro filho, uma homenagem.
Apesar de estar tudo bem, Mafalda carregava uma sensação estranha dentro do peito, algo parecido com medo, mas não era. Era aquela sensação de que já tinha vivido aquela situação.
Passado o momento crítico de internação e parto, Mafalda agora, apesar de convalescente, tinha seu bebê nos braços. Era bonzinho e lindo. Uma beleza tão familiar, era José.
O tempo foi passando e o menino foi crescendo, e cada vez mais tornava-se igual ao outro. O marido de Mafalda parecia não se dar conta das semelhanças entre ambos. Mas ela sim, ela percebia cada mínimo detalhe, e esses também eram iguais.
José chamava Mafalda de “mama”, gostava de banana amassada, tinha medo de tomar banho sozinho, sabia ler e escrever “casa” e era incrivelmente apaixonado pelo Superman. Todas essas características eram velhas conhecidas de Mafalda. A ultima causava um misto de terror e inquietação em seu coração.
Não podia entender o que acontecia, parecia que tudo estava se repetindo, que aquilo tudo já havia acontecido. Mafalda achava que estava ficando louca.
Quanto mais o tempo passava, mais ela temia o futuro e mais se apavorava ao pensar que José crescia. O menino, a cada dia ganhava mais a aparência e os gestos do irmão.
Certo dia, Mafalda, seu marido e José, na época com quatro anos, foram ao litoral passar um fim de semana.
O menino não se conteve de alegria, brincou, correu e por um descuido dos pais entrou no mar sozinho e quase se afogou.
Mafalda não pode conter o desespero. O outro filho também havia passado por aquilo.
Ela se perguntava o tempo todo porquê tudo acontecia exatamente igual, será que sonhava? Será que estava com algum distúrbio psicológico? Não. As coisas de fato se repetiam com a mesma intensidade.
Quando voltaram, as coisas pareciam estar correndo bem, mas Mafalda sentia medo de olhar nos olhos do filho.
O menino não entendia porque a mãe o tratava daquela maneira, não o abraçava, procurava sempre se manter a uma certa distância. Em sua cabecinha infantil achava que a mãe não gostava dele. A mãe gostava só do irmãozinho José que tentou voar. Ele também queria voar.
Quando José completou cinco anos, Mafalda não podia suportar o desespero, o outro filho havia partido com a mesma idade.
Então, um dia José vestiu sua capinha de Superman e decidiu. Foi até a sala, pegou uma cadeira e levou até a varanda do apartamento, subiu e debruçou-se na sacada. Então gritou “mamãeeeee”.
Mafalda conhecia aquele grito. Correu com o coração disparado. Ao chegar na sala, estacou diante da cena. O menino só a esperava para pular.
A mãe por mais que tentasse correr para agarrá-lo, não podia, algo a prendia ali.
Então José olhou e disse “Eu posso voar?”. A mãe só conseguiu responder que não. Mas o desespero parecia estar fazendo-a desfalecer. Não mais conseguia focalizar o que estava acontecendo...
O menino, então, calmamente e infantilmente desceu da cadeira e correu para seus braços, Mafalda abraçou-o sem entender a diferença dos acontecimentos. José disse “mamãe, meu irmãozinho voou porque é um anjinho, eu sou um menino”.
Naquele momento Mafalda pode compreender em um misto de dor e alegria, que o passado e futuro podem se fundir, mas as pessoas nunca são iguais.