sábado, 3 de maio de 2008

Morte, não te orgulhes, pois ruim
Como dizem não és, medonha e forte;
Quem pensas que abateste, pobre Morte,
Não morre; nem matar podes a mim.
Se o sono, o teu retrato, agrada assim,
Contigo fluirá melhor a sorte;
E o bom, ao conhecer o teu transporte,
Descansa o corpo e se liberta enfim.

Serva de reis, destino, acasos e ânsia,
À droga, à peste e à guerra te associas;
E adormecem-nos ópios e magias
Mais que teu golpe. Então por que a jactância?
Depois de curto sono, acordamos na eternidade,
E não haverá mais morte; morte, morrerás.



Soneto Sacro XJohn Donne (1573-1631)